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Região Ribeirinha

CARAVELAS

        

        Desde os idos de 1763, quando o Ouvidor Couceiro de Abreu percorreu o Rio das Caravelas, obedecendo às reais ordens, secundando a exploração feita em 1607 por Antonio Vicente e Valério Fernandes – “Para acudir à Capitania de Porto Seguro, atacada pelos índios...”, foi que se teve conhecimento de parte do estuário de Caravelas.

 Além das informações precisas sobre este estuário e os rios que nele deságuam, o 1o. Ouvidor constatou a existência de madeiras de “todas as qualidades”, fazendo o primeiro recenseamento em carta de 8 de janeiro de 1764, da qual é bem interessante o seguinte trecho:

 Notícias sobre as Barras do Rio da Villa de Santo Antonio das Caravellas, chamadas do Norte e do Sul, sondadas ambas em marés grandes, pelo Ouvidor da Capitania de Porto Seguro – Thomé Couceiro de Abreu. Tem este rio 2 barras, huma chamada do Norte e a outra do Sul. A do Norte fica na Ponta do Carasuípe. Que he uma ponta de areia assim chamada e della tomou a Barra de Carasuípe. Corre norte e sul e tem de fundo na baixa mar 3 para 4 palmos e na preamar 11 para 12 de largo da Coroa à praia de maré baixa mar 5 braças. Defronte da Ponta da Coroa da parte do Norte tem fundo na baixa mar 6 palmos, na preamar 14 e de largo 80 braços. Esta Coroa he alargada e só se vê de maré vazia, por barra aonde não há mar. Os ventos que confrontão esta barra são nortes, nornodestes, lesnordestes, nordestes, lestes, lessuestes, sudestes e sul e os mais confrontão com outra parte. E os ventos, com que se pode entrar nella alluesnoroeste, noroeste, nornoueste, (sic) norte, nornodeste, nordeste, lesnordeste, leste, lessueste e os mais servem para a sahida. Toda a embarcação que pretender entrar nella, vindo do norte, virá desviada da praia meia legoa e aonde a terra se atravessar na proa, ou ao sul, ahi está a barra, e findas algumas árvores, a ponta de matto grosso, a que chamam a Ponta das Baleias, lhe irá afinando a terra, por não ter matto as margens da Praia athé a barra, a qual se há de procurar desviando sempre da mesma praia coisa de 25 braças e este desvio o entrará a fazer chegado que será à frente de huns mangues pequenos, que ficam na mesma praia, buscando o Pontal do Sul, que ficará pela proa, e fica este Pontal distante de Carasuípe perto de meia legoa. Desta barra athé à outra do sul chamada Barra Grande, tudo são coroas, que botão a leste perto de huma legoa e por isso qualquer embarcação que quizer entrar ou sair d’estas barras não poderá fazer rumo certo, sem se por ao norte e ao sul da do sul, ao menos hum quarto de legoa. A Barra do Sul, chamada a Barra Grande, corre a sueste, e se entra nella ao noroeste. Tem de fundo na baixamar 9 e 10 palmos e de preamar 17 e 18, fundo de lama, e de largo da coroa que lhe fica da parte do norte athé o pontal 70 braças e quem por ella se encontra mais ao pontal que é a coroa por ser mais fundo. Os ventos que confrontão esta Barra são sul, sueste, que he direito pela barra dentro: lesueste, leste, lesnordeste e nordeste e todas as vezes que se achar da parte de dentro da dita barra qualquer embarcação, lhe abrigará o rio para o sudueste, aonde tem fundo na baixamar três e meia e em partes 4 e na preamar 4 braças e meia em algumas partes e em outras 5 e meia e quem quizer dar fundo n’este sitio o poderá fazer da parte do sul, à sombra de um mangue alto que fica acima do dito pontal perto de 400 braças. (em original, conforme registros em 1949 por Benedito Pereira Ralile no Museu Histórico da Bahia).

              A Região Ribeirinha, é formada por diversas ilhas, sendo que somente 11 (onze), se destacam e que são habitadas:

 ·  Ilha do Cassurubá (antiga Ilha Cassumba. O nome foi alterado levando adaptar a maneira como os seus moradores falam). Importantes Comunidades Extrativistas da região ribeirinha de Caravelas:

·  Ilha das Perobas

·  Ilha da Jaburuna

·  Ilha do Padre

·  Ilha do Massangano

·  Ilha do Povoado do Caribe

·  Ilha do Dendê

·  Ilha da Barra Velha

·  Ilha da Barra Nova (extinta pelo mar)

·  Ilha do Pontal do Sul (a mais antiga de que se tem conhecimento)

·  Ilha dos Coqueiros

A base da economia dos moradores ribeirinhos é a extração de mariscos, sururu, mandioca para cultivo da farinha, ostra, lambreta, caranguejo, siri, aratu, além de desenvolverem a cultura de subsistência e pesca, hoje muito praticada.

 As residências, na maioria, são de tijolo de barro cru, ou adobe e também de pau-a-pique, porém, existem muitas casas construídas de uma boa alvenaria.

 De que se tem conhecimento, o Sítio Paquetá ou “Tapera”, é por sinal a mais antiga propriedade habitada desta região. O povoado do Caribê, que incorpora três outras pequenas comunidades, como Caribê do Meio, Caribê de Baixo e Caribê de Cima, é o mais populoso e maior, com presença de mais de 60 famílias residentes e, a Ilha dos Coqueiros é a menor e menos populosa, tendo somente uma família residindo no local.

O povo ribeirinho é sem sombra de dúvida uma riqueza por si só, vejamos uma parte da sua cultura: “Um fato importante vivenciado na região, se deu no Povoado de Santa Luzia, localizado às margens do Rio Peruípe e do Rio da Fazenda, próximo ao Distrito de Juerana, que foi o naufrágio de um navio que transportava carga de madeira para a Serraria Eleucunha em Nova Viçosa, cidade vizinha, ninguém se salvou, foi triste. Os que presenciaram falam com imensa tristeza."

Os moradores mais antigos e contadores de estórias, acreditam na aparição da Caipora, do Boitatá, ali perto da coroa que vai para o Sítio Paquetá, diz que lá por volta das meia noite ou mais um pouquinho, nesta região, principalmente, aparece saindo do rio uma coisa do jeito de um boto roncando em forma de bola de fogo, depois uma forte zoada de correntes caindo no rio, o que dizem e levam a acreditar que nestas imediações, há muitos anos, uma pequena embarcação naufragou com escravos acorrentados e todos morreram, tal fato por vezes acontece na Fazenda Santa Luzia como diz alguns moradores de Juerana: “...na Fazenda Santa Luzia, tem algum mistério, é muito triste. Lá se ouve sons de correntes; pessoas gritando, marteladas, passos de pessoas andando, coisas caem ao chão. Não sabemos se ainda continua acontecendo, mais era assim mesmo, finaliza 

         É sempre costume nesta região de se fazer o famoso forrozinho na casa de um amigo por perto. E lá, diz Jofre Lopes Ferreira, mais conhecido como Seu Lenó: “já era boca da noite, fui convidado para tocar a minha sanfona na casa de um amigo, peguei a canoa e fui pra lá, chegando no parcelado (área alagada que se seca por completo quando a maré está baixa), quando inadvertidamente, se esqueceu desse feito e ficou a sua canoa presa no parcelado. Normal, ficou aguardando a maré encher, quando para o seu espanto, a sua sanfona começou a tocar, acrescenta ele, que não teve nenhum medo e que quem estava tocando o instrumento era melhor que ele, só ficou muito arrepiado.

        O complexo hídrico meandrante da Região Ribeirinha é composto dos seguintes rios:              

   Caravelas (o mais importante); 
·  Macacos;
·  Jaburuna;
·  Cupido;
·  Santiago;
·  Poço;
·  Largo (antigo Rio Peruípe);
·  Caribê;
·  Barra Nova;
·  Barra Velha;
·  Aracaré;
·  Massangano;

  Os mais importantes afluentes ou Córregos são: Peixoto, Pai Anselmo e Taquari.

 Na cultura, São Cosme e São Benedito são os destaques deste povo. Mas, o que mais impressiona são os chamados “OFÍCIOS” ou REZA de MÊS. Literalmente, neste conjunto de orações e cerimônias religiosas, existe algo mais que admirável e rico culturalmente nestes eventos, só acontecidos quando se completa um mês da morte de um amigo ou ente querido da família. A princípio, reúnem-se os convidados na casa do falecido, mas, alguém tem que saber “Tirar os Ofícios” (rezar com facilidade no dialeto afro) e o fazem com sapiência, durante toda a noite até o raiar do dia, só descansando uma meia horinha para comer algo, tipo (fazer uma boquinha) carne de porco com arroz doce, regado a aguardente. Neste dia é proibido lembrar do defunto com tristeza.

 Porém, antes de tudo se iniciar, não se pode invocar nada, sem que se acendam as velas em volta de toda a casa pelo lado de fora. Assim, já dentro da casa, forma-se a corrente positiva, acreditando-se que o espírito está iluminado, no que pode então iniciar o processo do ritual e cantoria, onde alguém faz o acompanhamento com um livreto na mão, não se sabe se realmente o lê, mas, conduz com firmeza o ritual.

Os Rios Caravelas, Massangano e Macacos já eram conhecidos do Governador do Brasil em 1607, em estudos feitos pelos navegadores Antonio Vicente e Valério Fernandes, a mando de sua Excelência (Memória da História e Política da Bahia, de I. Acioli e B. Amaral, vol.1, pág. 439)

A RESEX DE CASSURUBÁ, de 100.462 hectares, localizada na parte da região costeiro-marinha dos municípios de Caravelas, Nova Viçosa e Alcobaça, no extremo sul do Estado da Bahia começou a ser criada em abril de 2007, por solicitação da Associação dos Marisqueiros de Ponta de Areia e Caravelas (Ampac), que queria criar uma UC de uso sustentável que protegesse os manguezais da região. Após vistoria na área, feita pelos 

analistas ambientais do Instituto Chico Mendes, constatou-se a importância de se proteger por lei o ecossistema, bem como os meios de vida de aproximadamente 300 famílias de pescadores artesanais e marisqueiras, garantindo a utilização e a conservação dos recursos naturais renováveis tradicionalmente utilizados pela população extrativista distribuídas em 15 localidades.

    A região é formada por extensos manguezais, formações de restinga, remanescentes de floresta atlântica e ambientes costeiro-marinhos que compõem o chamado "Banco de Abrolhos", de extrema importância ambiental na região do Atlântico Sul e que concentra a maior biodiversidade marinha do Brasil. A unidade também está localizada em região considerada prioritária para a conservação e insere-se no entorno do Parque Nacional de Abrolhos. O extremo sul da Bahia é conhecido como "Costa das Baleias", importante área de reprodução e amamentação de baleias-jubarte.

        Os principais conflitos socioambientais na região envolviam a presença de catadores de caranguejo e marisqueiros de outras regiões, que se utilizavam da área para exploração dos recursos utilizando técnicas que não eram locais e geram degradação dos manguezais, além de impactar as comunidades locais. Pressões de projetos relacionados com a instalação de empreendimentos hoteleiros e de carcinicultura na região também foram registradas.
(Fonte: site ICMBio - "Presidente Lula cria e amplia Unidades de Conservação em solenidade na Bahia ", 05/06/2009)

     A Região Ribeirinha tem o segundo maior manguezal do País, o que vem sendo preservado, principalmente por seus moradores:
























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